segunda-feira, 21 de julho de 2008

[ Sobre a morte ]

Ontem terminei de ler o livro juvenil que a Geração Editorial nos enviou: Como viver eternamente, de Sally Nicholls. Muito sensível e triste, gostei muito, e recomendo. A morte em si é triste, mas é o caminho natural da vida. Há algum tempo eu escrevi o poema abaixo, sobre uma menina com leucemia. Esse é o mesmo caso do garoto do livro que estou recomendando. Acredito que a morte não deva ser algo misterioso e tenobroso, acho muito bom que alguns livros tratem o tema de forma objetiva e delicada. Para saber mais sobre o livro, clique aqui
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21 horas e 30 minutos

Mãe, fala “boa noite, Grace”.
Boa noite, Grace.
Boa noite.
Sempre que sinto medo minha mãe me recita uma poesia.
Hoje estou com muito medo. Acabo de perder um amigo.
Estamos no hospital, estou com leucemia. Aqui todos têm câncer.
Minha mãe disse que viemos só para uma consulta de rotina, coisa boba, e acabei sendo internada. Meu nariz estava sangrando.
Tenho nove anos e um irmão de cinco. Ele é muito traquina. Hoje ele pegou o triciclo e percorreu toda a ala pediátrica. Atropelou enfermeiros, pacientes e arrancou olhares curiosos de todos.
Meninos sempre são mais levados que as meninas, eu acho.
A minha médica é superlegal e carinhosa. Ela tem uma pulseira linda, com um coração e muitos pingentes, ela diz que ganhou de um velho amigo. Acho que foi do seu ex-marido, ela estava triste.
Estou sentindo muitos calafrios e estou chamando o Hugo a toda hora. As crianças dizem assim, aqui, quando vomitam muito, é divertida a expressão. É a quimioterapia. Vou ficar careca. Eu sei onde comprar uma peruca.
A doutora diz que sou muito corajosa.
Minha mãe foi levar o meu irmão pra ficar alguns dias com a minha tia, em outra cidade, ele está muito gripado.
Ela sempre se despede de mim com um selinho. Te amo mãe!
Meu nariz está sangrando, chamei o Hugo outra vez, e outra, e outra.
Uma hora e meia de choques e mais choques. O meu coração parou, a médica inconformada foi obrigada a marcar o horário do meu óbito.
Mãe, você recita lindamente as poesias, mesmo de longe, escutei sua voz e o medo passou.
Mãe, fala “Boa noite, Grace”.
Boa noite, Grace.
Boa noite.

Tereza Yamashita