terça-feira, 29 de julho de 2008


[ Onde foi parar o encantamento do mundo? ]

Todos nós deveríamos fazer essa pergunta que Nelly Novaes Coelho responde em O Conto de Fadas: símbolos - mitos - arquétipos da Editora Paulinas.

Prefácio do nosso amigo Nelson de Oliveira (escritor e doutorando em Letras pela USP)

Nossa época terrivelmente materialista e burocrática tem sido muito cruel com a fantasia e a imaginação, duas de nossas faculdades mentais mais estimulantes. Em toda parte, esse modo pacífico e sutil de interagir com a realidade — o prazeroso exercício da fantasia e da imaginação — tem sido sistematicamente desestimulado e desvalorizado. Em nome de quê? Em nome da mecânica rotina da indústria e do comércio, que, segundo certas pessoas, jamais deve ser perturbada por atividades tão pouco produtivas e rentáveis, como a do devaneio e a da criatividade.
Nossa época terrivelmente utilitarista e desencantada precisa urgentemente dos contos de fadas. Essa é a grande afirmação deste cuidadoso e necessário estudo de Nelly Novaes Coelho. Nossa época necessita urgentemente dos contos de fadas, das fábulas, dos mitos, das narrativas fantásticas, de tudo o que esteja carregado de poesia, símbolos e arquétipos, ou seja, de energia vital. O pensamento tocado pelo maravilhoso é capaz de reencantar a realidade, e esse reencantamento precisa começar imediatamente, em casa e na escola, e em seguida se espalhar pelo mundo.
Em entrevistas, palestras e mesas-redondas , Nelly Novaes Coelho não se cansa de dizer, com seu jeito apaixonado e perspicaz: “Neste momento, está em curso uma mudança efetiva da percepção do homem em relação ao mundo e a si mesmo, que resultará na criação de novos paradigmas, e os contos de fadas precisam assumir seu papel fundamental nessa mudança.” A presente análise das narrativas de Esopo, Perrault, La Fontaine, Grimm, Andersen, Carroll e tantos outros também é um importante gesto nessa mudança efetiva da percepção global.
Nessa análise são reveladas e comentadas as inúmeras camadas ocultas de várias histórias aparentemente simples, sobre animais, heróis e feiticeiras envolvidos em aventuras estranhas e terríveis. Coisa de criança? É claro que sim, mas também de crianças adultas. Afinal essas camadas mais profundas, sua simbologia e seus segredos, são de altíssimo valor para a educação, a psicologia, a psicanálise e os estudos literários. E para a felicidade humana.

[ Nelly Novaes Coelho ]
Paulistana, nascida em 1922, logo depois da eclosão da Semana de Arte Moderna, sob o signo de touro. Carreira acadêmica em Letras da USP. Professora, pesquisadora e crítica. Criou em 1980, na área de Letras da USP a disciplina de literatura infantil, em nível de graduação e pós-graduação, visando à formação especializada dos professores que se destinam à educação de crianças.

Um comentário:

Petê Rissatti disse...

Muito bacana esse trabalho, vou conferir.

Abraço!