quarta-feira, 4 de março de 2009

Recordações do balacobaco 6 de 16/03/2006 ]


Leia o artigo sobre literatura-infanto juvenil que Nelson de Oliveira escreveu no jornal Rascunho deste mês. Vale a pena conferir. O pessoal do Rascunho, com o apoio da Editora da Unicamp, distribuiu três mil exemplares na Bienal.

Clique aqui para ler o artigo na íntegra.

[ Qualidade não tem idade ]

Os equívocos de relegar as obras infanto-juvenis ao segundo escalão da literatura

Inquietante, aliás, é o adjetivo que melhor define a obra, por exemplo, de Lygia Bojunga, cujos livros já foram traduzidos para vários idiomas: francês, alemão, espanhol, norueguês, sueco, hebraico, italiano, búlgaro, checo, islandês e outros. Lygia é uma das maiores escritoras brasileiras em atividade. Seus livros incomodam, encantam, assustam. Ela, como Carlo Collodi e Lewis Carroll, parece que escreve para crianças e jovens, mas na verdade escreve para a espécie humana. Eu não tinha doze anos quando li pela primeira vez A bolsa amarela e Seis vezes Lucas. Eu tinha trinta e dois. Foi uma revelação, uma epifania. Lygia dissolve as fronteiras entre o real e o imaginário e sua literatura está sempre queimando os rótulos empobrecedores. Para ela qualidade não tem idade: infantil, juvenil, adulto? É tudo a mesma coisa, não existe diferença.

Rótulos? Não há rótulo que dê conta de uma narrativa tão lírica e perturbadora como O abraço, publicada em 1995. Ao mesmo tempo mágico e assustador, esse livro trata da delicada questão do abuso sexual de crianças. Nada mais distante do modelo ultrapassado de literatura infanto-juvenil, que décadas atrás exigia do autor que evitasse os temas controvertidos e só trabalhasse com os tons aconchegantes e moralistas. Os livros de Lygia Bojunga misturam fantasia, miséria, ilusão, euforia, crime, desamparo, amor, egoísmo, ciúme, amizade e medo sem jamais pouparem o leitor. Isso normalmente lança os autores para a margem do sistema literário. Lidar com as fobias e os tabus de uma sociedade é sempre o melhor caminho para a rejeição pública. Até mesmo Monteiro Lobato era severamente criticado quando levava as polêmicas políticas e ideológicas ao Sítio do Picapau Amarelo. Mas no caso da Lygia que foi que aconteceu? Exatamente o contrário! Ela recebeu o reconhecimento internacional e os maiores prêmios literários. Isso prova que o raio da lucidez às vezes atinge as cabeças certas.

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